quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Dia 9 - O Dia D


Acordei na confortável cama de meus hóspedes triangulinos me sentindo capaz de atravessar o mundo. Nesse momento final parecia que meu corpo sentia a proximidade do fim e eu estava muito bem. A saída de Uberlândia foi ótima, havia nuvens no céu, mas o clima parecia bom mesmo assim, e as pistas duplas finalmente começaram.



Rodando forte, atento aos radares e aos carros que passavam voando ao meu lado, rapidamente cheguei em Uberaba/MG última cidade mineira antes de São Paulo. Não podia sair dali sem um queijo. Avistei um posto com uma enorme placa escrita 'laticínios' no sentido Uberlândia e fiz o retorno. Comprei o queijo e quando volto a rodar, olho o GPS que me diz para entrar no centro de Uberaba. Pensei 'meu Deus, essa máquina já vai me colocar perdido de novo'. No final de uma rua perguntei onde estava o retorno para a pista sentido Sampa e um mineiro tranquilo me disse 'ah, por aqui tem não, só dando a vorta [sic] lááááá...' falou ele apontando para longe. Decide seguir o GPS, que, para minha estúpida surpresa, estava certo me guiando pelo meio da cidade e me levando perfeitamente de volta no caminho certo. Voltei a acreditar nele.



Logo entrei em solo Paulista. E cada vez mais sentia o fim se aproximando. Uma parte de mim queria ficar na estrada, continuar rodando, mas outra parte, a mais sensata, não via a hora de poder tomar um banho e se esticar em algo que podemos, nós mesmos, chamar de lar. A fome apertou e eu parei em uma das milhares de churrascarias gaúchas espalhadas pelas beiras de estradas de todo o Brasil.



Depois do meu último almoço on the road, voltei a rodar nas boas rodovias 'públicas' - leia-se 'sob concessão' - paulistas e, por ser motociclista e não pagar pedágio, realmente acreditar na eficiência estatal na gestão das estradas. Enquanto tirava fotos dos canaviais o clima foi fechando.

Voltei a rodar forte, preocupado com a chuva. De vez em quando uma placa indicando aos motoristas para reduzirem de 120 para 60 km/h em caso de neblina passava ao meu lado no que eu pensava 'meu Deus, será que eu vou pegar neblina?'. Pode apostar!

Comecei a ficar preocupado em escurecer na estrada antes de chegar em São Paulo. Subi a SP-348, a Rodovia dos Bandeirantes a toda velocidade e quando o céu começava ficar escuro a placa que dizia 'Perímetro Urbano' cruzou o meu caminho. Cheguei direto na marginal tietê. Não consegui encontrar lugar para parar e trocar o chip que continha os mapas da cidade até avistar uma placa 'proibido parar e estacionar - exceto emergências'. Essa era uma. Encostei e troquei o chip meio amedrontado naquela super avenida. A brusca mudança de estrada para a cidade me assustou. Duas pessoas apontaram pra mim de um viaduto o que me deixou mais neurótico ainda - momento nelson, nem bati uma foto - mas tudo ficou melhor quando o GPS informou que eu estava apenas a 3,6 km de casa. Facilmente cheguei no destino final. Não podia acreditar. Olhei para trás e lembrei de tudo, de todos as pedreiras que eu passei. Poder sentir a emoção do dever cumprido não tem preço. Fui encontrar a pessoa que mais me deu força esse tempo todo que sempre acreditou em mim - até se eu desistisse de tudo - e pude brindar a vitória de sei-lá-o-que.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dia 8


Acordei em Coromandel/MG e levei a manhã para resolver todos os problemas que precisavam de atenção. Depois botei o pé na estrada a caminho de Uberlândia. Pista boa, com alguns probleminhas mas nada que precise ser notado a não ser a belíssima paisagem mineira.


Viagem tranquila. Nos quilômetros finais, pista dupla e logo na entrada uma obra onde constrói-se um rodo-anel ou algo assim eu vivi um novo momento off-road muito próximo da chegada de Berlândia, uma das grandes cidades a formar o triunvirato mineiro.

Ao chegar recepção super calorosa, do jeitinho mineiro. Encontrei o CouchSurfer Gilberto e seu filho Vitor, que me pegaram na centro de Uberlândia e fomos para a chácara onde eles moram. Um lugar lindo onde tive um belo fim de tarde comendo uma picanha com pães de alho. Típica família mineira que me deixou super a vontade. Melhor só se fosse 2 vezes.


Finalmente cheguei na última parada antes da babilônica São Paulo. Estou há 8 dias na estrada mas parece que estou há 8 meses. Com o ritmo intenso de acontecimentos a lembrança de Belém ficou muito para trás. Agora é recuperar todas as energias e me preparar para que tudo ocorra bem na etapa derradeira da viagem.

Dia 7


Amanheceu nublado. Mas meu coração não esmoreceu. Rumamos em direção a Uberlândia com o céu bastante carregado. Até sair do DF pistas duplas e viagem tranquila, quando cruzei a fronteira a primeira chuva. O cenário não era nada animador, achei que finalmente comeceria a fase aquática de minha aventura. Mas felizmente eram pancadas esparsas que só iam cruzando o meu caminho. O céu começou a abrir. Os deuses sorriam.



Comecei a entrar no Estado de Minas. A lembrança do jeitinho mineiro, o pão de queijo, coisas assim foram confortando meu espírito enquanto subia e descia grandes morros e fazia várias curvas sinuosas em boas pistas. Nesses sobes e desces vi um postinho de beira de estrada todo empoeirado. Olhei o odômetro marcava 80 km. Pensei 'deixa dar 100 km para parar, nesse posto nem tem pão de queijo...'. Voltamos a montanha russa e os quilômetros passavam, pastos passavam, vaquinhas malhadas e nada de posto. 90 km depois de nenhum outro posto não deu mais para a Maga, ela parou. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Fiquei na beira da estrada fazendo sinal. As pessoas nem paravam, os caminhoneiros me olhavam e seguiam reto. Começou a bater um desespero. Depois de muitos carros um senhor com sua esposa e um pincher neurótico pararam e me informaram que 20 km acima teria um posto. Poxa vida, só precisava de mais 1 litro para chegar lá. Podia ser pior. Parei a maga fora da estrada e fui atrás de petróleo.


Vida de caroneiro não é nada fácil. Ficar parado não adiantava de nada e comecei a andar. Andei bastante, cruzei carros e caminhões e nada. De repente um ônibus faz uma curva. 'Esse não tem desculpa para não parar' pensei eu. E claro que ele parou. Fui resgatado pelo Expresso Araguari.


Exatos 20 km a frente havia um posto. Comprei o combustível e para dar uma forradinha na barriga fui atrás do bendito pão de queijo. Mas, para minha surpresa não havia pão de queijo. 'Vocês estão denegrindo a imagem de Minas' eu disse, 'É domingo, já acabou' me informou calmamente o vendedor num típico mineires. Nesse momento eu percebi quão irônico havia sido o sorriso dos deuses.


Depois de comer, contrariado, um oleoso risole de frango, comecei a conversar com o frentista e ele me disse que os caminhoneiros não pararam porque não me conheciam. Ele me apresentou para o seu Sérgio que foi muito camarada e eu dei minha primeira volta em um caminhão.


Moto abastecida, sobrou apenas tempo para bater uma foto do fim do dia e parar em Coromandel/MG para pernoitar. Fiquei 200 km distante do meu destino. Podemos dizer que perdi, praticamente, um dia com esse acontecido. Mas pelo menos rendeu uma boa experiência. Amanhã passo o dia em Uberlândia e terça feira eu chego na capital paulista.

sábado, 22 de novembro de 2008

Dia 6



Como o clima não estava nada animador não me sobrou muita coisa para fazer na capital federal o jeito foi dar uma de turista tradicional e dar uma volta em Brasília que agora compartilho com vocês.


A parte a questão estratégica o planalto carrega uma energia muito especial. É possível sentir na estrada que o lugar que você está entrando é diferente. A arquitetura da cidade capta perfeitamente a vibração, digamos, alienígena do lugar.



Niemeyer e Lúcio Costa nos presentearam com a cidade monumento que é Brasília. Sempre me emociono ao ver essa cidade uma das mais belas homenagens do homem a pedra.



Voltas pelo eixão debaixo de uma garoa nada tradicional, curvas confusas nas tesourinhas que eu nunca consegui entender. Andando com o GPS aprendi menos ainda os caminhos da capital por não ver muito bem o caminho e apenas seguir os comandos de 'dobre aqui, dobre ali'.


Chegar aqui foi mais da metade da viagem. Me sinto muito confiante para a partida amanhã debaixo do céu que estiver. A caravana não pode parar.

Dia 5


Levei a sexta feira para regular a moto. Troquei óleo, uma luz de freio e a corrente que, segundo o mecânico, não aguentaria mais 1.000 km. Quando terminei fui comprar um fone de ouvido no Shopping Popular de Brasília e na volta acabei pegando um retorno errado e o GPS me mandou pegar umas rotas que estavam fechadas pelo horário e eu não podia retornar, resultado: acabei parando em Taguatinga debaixo de muita chuva. Um dos momentos mais angustiantes da viagem. Um sentimento de estar completamente perdido - o GPS me mandava para rotas fechadas - e só, no meio das grandes rodovias estruturais brasilienses, sem uma alma sequer andando. Tive que parar em um comércio no caminho de Taguatinga e perguntar como voltava. Foi um bom teste do que me espera em uma chegada em dia de semana na capital paulista. E a chuva me mostrou que eu preciso de uma capa.

No mais me preparando para a partida nesse sábado para Uberlândia se o clima ajudar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia 4

Depois de pernoitar em Padre Bernardo/GO segui caminho, 100 km pela BR-080, até Brasília. Logo no começo da estrada pude ver o quão acertada foi minha decisão em parar na primeira cidade que cruzasse. A estrada está em condições precárias e é cheia de longas descidas e curvas assassinas, teria sido muito perigoso para uma pessoa que desconhece seus perigos.


Os caminhões são maioria absoluta - como em praticamente todas as estradas - e pelas condições do asfalto e pelos aclives, a velocidade deles é bem reduzida o que deixa as ultrapassagens mais fáceis e a viagem mais tranquila.


Depois de perder muito tempo fotografando e conjecturando sobre a existência humana solitariamente na beira da estrada. Terminei de fazer os 100 km mais longos da viagem. Encontrei com o amigo Lucas na Rodoferroviária do DF e rumamos para a sua casa, uma chácara numa área isolada de BSB. Um verdadeiro paraíso dentro da Capital Federal.

De lá temos uma visão em slow motion da agitada Brasília. Um lugar contemplativo. Pude esticar minhas canelas e ficar relaxando, apenas olhando o fim de tarde num silencionso morro do planalto.

Embora Lucas e sua família não sejam do CouchSurfing eles mostraram que o site é apenas a materialização de um espírito hospitaleiro que habita nas pessoas de bem. Fui estremamente bem acolhido no meio da família e pude me sentir humano novamente depois de tantos km sendo apenas superficial e passageiro por onde estive. Casa com belos bull-terriers que aqui eu posto para deleite de minha grande amiga Carol Collyer.


A viagem tem sido pesada como descrito nos post anteriores mas não tão pesada quanto eu imagei. Cheguei a pensar que minhas costas e ombros seriam massacrados por horas a fio em uma posição pouco confortável mas os meus membro inferiores é quem têm pagado o pato até agora. Depois da queda e com as intermináveis horas de perna arqueada, as proteções da roupa começaram a me machucar. Com a panturrilha levemente inchada e o calcanhar direito ainda sofrendo da minha primeira queda, hoje foi decretado healing time.


A viagem entra em recesso e deve ser continuada amanhã a caminho de Uberlândia onde encontrarei o couchsurfer Gilberto e sua família. Portanto, agora é descansar para estar 100% para a reta final, tecnicamente a mais fácil pelas melhores condições da estrada e pelas pistas duplas, a viagem está chegando perto do seu fim.

Dia 3


Depois de dois dias saindo debaixo de um céu carregado hoje Apolo deu uma forra. E logo na chegada de Gurupi/TO me deparei com o místico trecho do Km 666 da BR-153. Foi um forte encontro cabalístico. No primeiro posto que eu entrei para abastecer levei um susto na saída, ao subir a rampa para pegar a estrada ouvi uns estalos, como coisas quebrando, e a moto morreu. 'Pronto, bati o motor', pensei logo. Dei a partida, ela ligava, só não saia do lugar. Desci da moto e constatei a corrente solta. Ponto para o meu mecânico. Como são misteriosos os desígnios do Senhor dei pau em um posto, entrei e procurei os mecânicos. Rapidamente se prontificaram a colocar a corrente no lugar e pediram para eu dar uma volta e testar se estava tudo certo. Peguei a moto para dar a volta no pátio, saí de trás de dois caminhões parados, quando os passei me deparei com uma Scania assassina vindo em minha direção, só tive tempo de freiar e jogar para o lado, resultado: a moto derrapou e, novamente, eu fui ao chão. As casas de aposta se alvoroçam. Dessa vez a moto bateu forte na minha perna e eu me senti treinando muay thai - apanhando - de novo. O retrovisor quebrou e eu precisei de serviço profissional. Encontrei ótimos mêcanicos, e melhor, debaixo de uma mangueira, já pude matar umas saudades da terrinha.



Refeito do susto e com a moto novamente revisada parti em direção a Goiás. O último trecho da BR-153, de Alvorada até Talismã é sofrível e requer muita atenção pelo sobe e desce da estrada. Passando pela divisa dos Estados logo nos damos de cara com a gradativa mudança da vegetação, o cerrado vai dando as caras ao lado de imensos latifúndios, o Texas brasileiro.




O lado goiano da BR-153 é razoável, alternam trechos recém asfaltados com alguns remendados mas nenhuma parte que lembre um queijo Suíço como no lado tocantinense. Manter uma velocidade de 80, 90 km/h, como eu havia projetado no início, se mostrou impossível, boa parte da viagem eu faço praticamente deitado na moto para diminuir o choque de ar e poder manter os 100, 110 km/h. Nenhum caminhão me ultrapassou até agora mas carros de passeio eu não posso fazer nada, eles passam voando. Descobri um macetinho, quando a estrada está vazia eu fico em pé - em pé mesmo - nas alavancas de apoio e posso relaxar minhas nádegas que, até agora, é o que eu mais tenho sentido, 1 minuto de pé faz com que eu fique pelo menos 10 sentado de boa, isso me ajudou a fazer os percursos de mais de 100 km tranquilamente.



O dia foi generoso comigo, quando houveram nuvens foi só para fazer sombra e no fim do dia um belo por-do-sol me foi dado. Obviamente não resisti e parei para fazer fotos contrariando as indicações do GPS que diziam que o sol se poria em 20 minutos, resultado: precisei pilotar na escuridão com o farol que mais parece uma vela. Foi assustador. Uma chuva de mosquitos nojentos me pegou na estrada, eram muitos se espatifando por todo o meu corpo. Quando um caminhão passava com um contra-luz eu podia ver milhares deles, one thing to say: disgusting. Meu capacete ficou intocável.



Depois de 40 km nas trevas finalmente cheguei em Padre Bernardo que fica a 100 km de Brasília, onde hoje pretendo ficar na casa do amigo Lucas e me recuperar para amanhã quando chego em Uberlândia. O mais difícil está para acabar, portanto, pé na estrada.


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Dia 2

Tive um sono pétreo. Meu anfitrião, Kássio do CouchSurfing, foi um profissional em me fazer sentir em casa e meu corpo descansou tudo o que precisava, acabei acordando muito depois do previsto. Apenas as 9h pude partir de Imperatriz em direção a Gurupi-TO novamente debaixo de um céu carregado. Só que desta vez o dia seria diferente.

Logo parei em uma cidade chamada Estreito, fronteira do Maranhão com o Tocantins, cidade arrumadinha. No fim da BR uma ponte que, por ter uma ferrovia do lado, brevemente, me lembrou Marabá mas do outro lado o que me esperava eram estradas muito problemáticas.

Difícil Saber qual era a pior. Tanto a BR-153 como a 226 dão medo. Buracos, remendos toscos, certos momentos tudo se resumia a deprimentes primeira e segunda marchas. Em uma cidade chamada Guaraí eu quase faço o retorno por pensar que a rodovia que eu trafegava não era uma BR dada a calamidade do asfalto. Eu vi um carro da Polícia Rodoviária Federal passar com meia Blazer pelo canteiro central da cidade para evitar uma cratera que tomava conta de 3/4 da pista.
Mas o pior veio dos céus. Muita chuva despencou sobre nós. E eu botei à prova os equipamentos ditos impermeáveis. Bota e calça foram aprovados, o resto levou bomba - jaqueta comprada em promoção da marquinhomotos.com nunca mais. Se ontem eu reclamei do calor hoje eu mordi a língua. Com a água entrando pela jaqueta e a velocidade alta senti frio e com a chuva forte, algumas vezes, a velocidade caiu bastante, certa hora achei mais prudente parar por causa da baixa visibilidade.
Quando a tarde começou a cair achei melhor parar na cidade mais próxima e assim acabei ficando em Paraíso/TO distante 170 km de Gurupi. Acabei fazendo a média de 600 km e, fatalmente, terei que descontar essa diferença amanhã a caminho de Brasília.



Ou seja, mais pedreira pela frente - ah, se eu quisesse moleza ia sedado de avião. Mas uma coisa eu confeso: debaixo da chuva senti um super aperto no coração. Uma vontade de estar em casa, de boa. Só que o espírito guerreiro deve prevalecer nessa hora, e amanhã é tudo de novo mas diferente, afinal sempre temos como limpar a m#$*@


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Dia 1


A largada foi dada.

Depois de uma noite inquieta, imersa em ansiedade -não sei se está relacionado - em que eu senti até vontade de vomitar, depois de alguns óbvios atrasos relacionados a bagagens, Margareth e eu saímos pelas BRs e estaduais do Brasil sob uma manhã nublada. E uma coisa eu posso dizer tranquilamente: - foi intenso.

Logo saindo do posto Pombal, nas remediações de Belém, eu já tomei o primeiro, e espero que último, tombo da viagem. Derrapei em uma caixa de brita a 20 km/h e a moto caiu sobre a minha perna. Só não me machucou pelos equipamentos que eu usava. Refeito, mais atento e, agora, paranóico, parti confiante para chegar na estrada que logo chamaria de 'A Infinita'. A famigerada Belém/Brasília, a BR-010.

Longas retas com sobes e desces, alguns trechos com falhas no asfalto, e, consequentemente, momentos muito tediosos. Como disse o Rafael da falconline é preciso ocupar a mente de maneira objetiva. Algumas vezes eu começava a imaginar algumas situações, chegava quase a delirar e quando dava por mim eu estava entrando num estágio de torpor, como se fosse dormir. Comecei a cantar alto, ecoando dentro do capacete, tentando ouvir a minha voz. E isso foi as 11 da manhã. É uma estrada estranha.




Ao meio dia o sol deu as caras. Nesse momento a mochila de hidratação, que só entrou como equipamento por eu usa-la em trilhas e corridas de aventuras, se mostrou uma ferramenta indispensável. Pude repor o líquido que perdia em bicas e me concentrar em algo mais além da monótona pista. Mas algo que eu não estava preparado era para o choque de ar dos caminhões.

Como se fosse um soco no meio do peito a massa de ar que esses colossos deslocam é impressionante. Como minha moto não oferece a estabilidade necessária para enfrenta-los o jeito é curvar-se e fazer com que a rajada de vento se disperse pela cabeça e pelas costas, mas, como eu tenho um bauleto, a moto ainda era significativamente afetada e as vezes eu precisava segura-la com bastante força quando, literalmente, bambeavamos no asfalto.

O fato de a pista ser de mão dupla é o maior problema. Motoristas imprudentes tentando ultrapassar em subidas sem visão são o maior perigo. Tive que jogar a moto para o acostamento uma vez e se eu não tivesse feito isso algum louco teria passado por cima de mim. Portanto é prudente se posicionar a direita da pista bem próximo ao acostamento nas situações em que perdemos a visão da estrada.

Passando por lugares muito áridos e pobres é lógico que fui despertando a curiosidade das pessoas e, em nenhum momento, me senti ameaçado. Na verdade, em Açailândia, encontrei dois meninos muito divertidos. Crianças que trabalham como engraxates e lavadores de carros em um posto de beira de estrada mas, mesmo assim, são muito engraçados e muito bem informados de futebol. Viva o Brasil.






Depois de almoçar em uma churrascaria de caminhoneiros, lutar contra monster trucks e contra o delirante sol, depois de 550 km sentindo-me sem posição ideal para acomodar qualquer lado de minhas nádegas, rezando para que Imperatriz acontecesse na minha frente, eis que cruzo com o posto de Shangri-la.


Salve a terra do Reggae. Imperatriz é bem maior do que eu imaginei. Cidade pequena mas com certas coisas de cidade grande. Limpa, com um comércio apresentável e a receptividade do povo maranhense. Cidade muito agradável e hospitaleira, fui muito bem recebido pelo CSer Kássio.
Cheguei bastante cansado e com o braço direito doendo, provavelmente por ser o do acelerador. Passei os guentos que me cabem e agora durmo e me preparo para o maior trecho da viagem: Imperatriz, Gurupi, 777 km de estradas e, pelo que dizem, piores que da - eu achei rodável - BR-010. Amanhã tem muito mais.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Agora Vai!



É com grande prazer e regozijo que anuncio a data da partida: dia 17 de novembro.

Depois de todo o tipo de pendenga agora é oficial: parto na próxima segunda. Obrigado a todos os que me ajudaram e me deram muito apoio e coragem para realizar essa aventura. Um obrigado especial a Kássio, Lucas e Gilberto, pessoas que abrirão suas casas e me farão sentir mais confortável nessa travessia. Um grande obrigado a todos do falconline que me deram grandes dicas e incentivos muito valorosos. Aos amigos que me apoiaram e me deram força desde o começo, principalmente Uirá, Sara, Carol, Chloe, Thiago, Vanessa, Cassio, Cabal, Felipe e Sandro digo que vocês serão sempre necessários na vida de todos, acreditando e encorajando nossas viagens, contem sempre comigo e aos meus amigos que tentaram me apavorar com suas performáticas e convincentes piadas de humor negro um óbvio obrigado - cês sabem que eu também não perderia a oportunidade de sacanear - não se preocupem, vocês me deixaram muito cautelosos -mesmo. E um especial obrigado a minha grande companheira Élida, obrigado pela confiança e paciência, meu amor, pode deixar que eu vou tranquilo e, logo logo, estaremos juntos.

Bem depois de tantas chorumelas digo que agora só nos falamos novamente na estrada, o próximo post será, literalmente, on the road.

3 dias para a partida.