segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Últimos Preparativos




Com a compra do Baú e de uns últimos acessórios chego na reta final do momento de partida. E é nessa hora que uma das últimas coisas que faltavam para um bom começo aconteceram: minha primeira queda.

Como há os que digam que existem dois tipos de motociclistas, os que caíram e os que vão cair, agora que pertenço ao primeiro time sigo em frente com uma certa segurança, até mesmo um ar de austeridade agora que os ferimentos são mais lembranças que dor real.

Aprendi uma grande lição. Quando acaba o respeito na máquina se esvaia o respeito próprio e aí nos entregamos a mão do destino que pode ser muito dura as vezes - ou o suficiente para lembrarmos o quão frágil é a nossa carne.

Mas como eu aprendo da maneira mais difícil valeu ter caído agora. A moto ficou com a partida elétrica falhando e os piscas esquerdos foram quebrados. O mecânico disse que com o choque e a virada a bateria pode perder carga. Moto consertada, orgulho refeito, me sinto a cada dia mais pronto para a viagem.

7 dias para a partida.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A Via Crucis 'DETRAN'

Sempre percebi o desconforto das pessoas com o Departamento de Trânsito mas nunca havia realizado o porquê até precisar bater em suas portas. Foi como se eu aparecesse de pires na mão. Lázaro implorando às portas da fartura alheia.

O DETRAN é um órgão público mas tem verba própria através de caras taxas de serviços, ou seja, ele funciona bem, tem cara de empresa privada mas o ranço, a pedância do funcionalismo estatal. Seria uma injustiça e até mesmo loucura dizer que são maus. Cruzei com pessoas ótimas no meio do processo mas o todo, o órgão em si, é uma instituição regulamentadora/administrativa de propósito falido.

O psicotécnico é uma piada, uma avaliação de QI inútil. As pessoas que não conseguem 'concluir' o exame voltam em outra data marcada para terminar o teste. Nada está sendo realmente avaliado. Na turma onde realizei o meu teste era nítida a dificuldade de várias pessoas com operações lógicas simples. Mas no final das contas elas iam pegar a licença do mesmo jeito. Fica implícito no ar algo como 'se eu não der a carteira de habilitação para essas pessoas como vai ser? quem vai dirigir?' parece que o país teria que ir a pé.

A segunda etapa então, essa sim, a mais ridícula de todas. Assistir aulinhas em auto escolas com pessoas de caráter altamente duvidoso ensinando legislação do trânsito para gente que, salvo algumas exceções, tem mais o que fazer. Isso é hipocrisia pura. Você vê pessoas errando perguntas de direção defensiva onde as respostas são sempre as mais prudentes em questões do tipo 'o que você faz quando o pedestre cruza fora de faixa?', coisa simples para alguém com o mínimo de respeito pelas pessoas. Mas o problema é que trânsito é uma questão de cidadania e isso é IMPOSSÍVEL ensinar em 5 aulinhas de 3 horas. Mas de novo batemos na mesma tecla: as pessoas precisam da carteira e o DETRAN faz as vezes de Pilatos.

Depois de uma prova de legislação começam as aulas práticas, onde, aí sim, a vaca da moralidade vai pro brejo. A grana precisa ser distribuída com fiscais e instrutores que vendem a seguinte fórmula: pague para passar pois se você levar bomba terá de pagar a remarcação da prova R$ 40,00, mais 5 aulas práticas R$ 150, aluguel do carro para o teste e mais 15 dias de espera para tentar de novo. Momento crítico. Mas mesmo assim é possível passar sem esses cambalaxos que ficam óbvios quanto sua necessidade quando lembramos a maioria dos alunos que serão submetidos ao exame.

Depois de toda essa chateação com o DETRAN pelo menos estou saindo da clandestinidade e não mais andarei pelo trânsito de maneira irregular. Pensei que como muitos amigos jamais pegaria a habilitação e viveria pra sempre temendo blitz mas graças a deus, e a pratica intensa de paciência por não mandar umas 15 pessoas irem para bem longe nesse processo todo, isso está acabando, agora são os preparativos finais da viagem, 10 dias para a partida.

domingo, 19 de outubro de 2008

A Gênese


Bem, primeiro post, acho que devo deixar as primeiras impressões do que vai ser a viagem e como cheguei a idealiza-la:
Depois de analisar o percurso de ônibus para a faculdade que pretendo cursar em São Paulo percebi que não merecia uma forma de vida tão indigna descendo de busões lotados em paradas chuvosas e terminais cheios de pessoas ávidas por coletivos com lugares livres. Como não tenho dinheiro para ter e sustentar um carro na cara São Paulo decidi comprar uma moto. De cara foram logo me dizendo que eu iria morrer vítima do impiedoso e assassino trânsito paulistano. Fiquei pensativo e percebi que precisava de confiança na direção da moto e que isso só vem com experiência, sendo assim idealizei uma viagem de Belém para São Paulo onde passaria por momentos únicos de decisão que, acredito eu, me deixariam mais preparado para o demoníaco trânsito da capital Paulista.

O coro de pessoas pessimistas aumentou. Dessa vez não seria roubado ou atropelado por um meliante em fuga da polícia, não derreteria com a chuva ácida ou derraparia para dentro do Tietê. Dessa vez meu destino seria o bruto e rápido término debaixo das rodas de um caminhão com a caveira de um boi na capô e guiado por um caminhoneiro de riso psicótico enfiado em uma boleia iluminada por uma infame luz vermelha. Eles foram bons em me aterrorizar mas mesmo assim decidi ir em frente.

Precisava comprar uma moto. Não querendo gastar com uma moto nova parti para o setor das usadas onde depois de muito pesquisar acabei comprando uma XR-200, 1997. Não é pequena, o que me ajuda na estrada, e nem tão grande já que é minha primeira moto. Depois, o equipamento: comprei jaqueta e calça de cordura, luvas, bota cano alto e capacete, tudo impermeável. Aí chegou a hora do roteiro. Utilizando o CouchSurfing decidi parar em 4 cidades: Imperatriz/MA, Gurupi/TO, Goiania/GO e Uberlândia/MG. Onde consegui contato em quase todas, menos Gurupi até o momento em que vos escrevo.

Depois de fazer tudo isso parti para o que, até agora, me parecia o mais fácil: CNH, a famigerada carteira de motorista. Mas essa coisa que, até agora, se mostrou o mais difícil fica para o próximo post.